íris
escritos– A cor do céu é azul.
O olho em dúvida – Tem certeza?
– Ora, mas que tipo de pergunta é essa?!
– Hoje, quando acordei, o céu estava preto – o segredei baixinho.
– O céu estava preto? – olhou-me divertido – E que horas você acordou?
– Não sei ao certo, não tenho relógio.
Sinto seu olhar de troça.
– Se não tem relógio, então como vê as horas?
– Pois não as vejo.
– E como se organiza?
– É necessário saber as horas para se organizar? Para mim servem somente para nos aprisionar.
– E nós aprisionam como? – pergunta genuinamente curioso.
– Ditam quando devemos acordar, comer e dormir; não sobra tempo para nos perdermos no infinito.
Faço silêncio e continuo.
– Quero ser livre para perder meu olhar no céu. E hoje de manhã ele estava preto.
Sinto seu olhar em mim e sei que não compreende. Já foi adestrado. Anda com relógio de pulso, alarme no celular e ainda crê que o céu é azul.
– Bom, meu amigo, mas se você olhar para o céu agora, verá que está azul.
Acredito nele, mas também sei que antes de ganhar esta tonalização azulada estava com um belo laranja e não deixo de comentar isso.
– Será que o céu é laranja?
Seu olhar é impaciente.
– O céu é azul!
– Mas e quando o sol desce e o horizonte se pinta de violeta?
– Logo após fica azul de novo! – diz exasperado.
– Não – o corrijo – fica azul escuro.
– E lá tem diferença?
– Tem – digo com propriedade – pois dá espaço para que a negritude se alastre e os pontinhos brilhantes apareçam.
– Você quer dizer as estrelas?
– E os planetas.
– São astros.
– E deixam de brilhar por causa disso?
Ele me olha enfadado.
– Olhe para o céu agora – ele diz e o obedeço – qual cor pinta sua amplidão?
Prendo a respiração.
– Todas – digo maravilhado.
Ele me olha atônito.
Abre a boca, talvez para me xingar, rir de minha ingenuidade ou, quem sabe, dizer as horas. Nunca vou saber. Pois no segundo em que levanta sua cabeça e admira a abóbada celeste vê o mesmo que eu.
Vermelho. Laranja. Amarelo. Verde. Azul. Violeta.
Um arco-íris se esparrama no firmamento e posso ouvi-lo rir de nossa discussão, nos cumprimenta com toda sua magnitude e faz do céu tela e paleta.
Pergunto novamente.
– Qual é a cor do céu?
Mas, dessa vez, ele não me responde.
E vejo em seus olhos que também não sabe.